Tá todo mundo me perguntando se eu tô bem hoje.
E, no automático, eu respondo: tô bem.
Bem… rsrs… o que é estar bem de verdade?
Porque a sensação que eu tenho é que ninguém nunca está bem. A gente se acostuma com as pancadas da vida, com as inconstâncias da vida. A vida te dá e também te rouba, a vida faz florescer e morrer. E a gente se acostuma com esse movimento.
Se isso for estar bem, compreender o vai e vem, eu tô bem.
Não sei dizer se aprendi a lidar com a saudade. Não sei dizer se me acostumei ou se efetivamente cresci ao redor dela. Sinto que, nos últimos 30 dias, não faço nada além de sentir. Sentir profundamente a perda, sentir e lembrar.
Até nisso você deu um jeito de ser intenso, não é? Me deixou 30 dias para lembrar e sofrer tudo de uma vez. Bom que consigo ser mais produtiva ao longo do ano… hahahaha… você entenderia essa piada.
Dizem que a vida é nascer, casar e morrer… Em 30 dias, eu revivo esse ciclo inteiro, com as festas de final de ano no meio e toda a ausência que você deixou. Pra mim é tão engraçado comemorar a minha vida no dia 14 e reviver o seu adeus no dia 23… É tão contraditório, paradoxal, eu diria.
30 dias: nosso casamento, nosso dia mais feliz, o símbolo do nosso reencontro, da nossa vitória contra tudo e contra todos. 30 dias… e uma curva maldita te levando de mim. Do céu ao inferno, do sonho ao pesadelo, o começo e o fim da nossa história em 30 dias.
Este último dezembro foi muito difícil para mim, verdadeiramente difícil. As lembranças de você estavam tão vivas em tudo: os sonhos que não realizamos, as promessas que não conseguimos cumprir… o “para sempre”.
Emocionalmente, eu me senti quebrada, vazia, ausente. Por mais que eu tentasse não me entregar a esse sentimento egoísta e mesquinho, porque você nunca foi egoísta e mesquinho.
E eu fiz tudo o que tinha que fazer: Natal em família, chorei no nosso aniversário de casamento, Réveillon com pessoas incríveis em um lugar maravilhoso. Aniversário de 40 anos.
Ah, esse aniversário… como você esperou e planejou seu aniversário! Era dezembro e você já tinha decidido que seriam 3 bandas, 3 dias de festa. Era dezembro e você já esperava, ansioso, seus 40 anos. Mas você não conseguiu comemorar, e eu também não. Eu queria ficar em casa lambendo minhas feridas… mas meus amigos e familiares não deixaram. E lá fomos nós, para a “não comemoração” do meu aniversário que durou 7 dias. Hahahaha… você teria gostado disso. Você teria gostado muito disso. Foi intenso, insano, sem planejamento concreto e totalmente emotivo. Foi mais você do que eu gostaria de admitir.
Fico lembrando do meu último aniversário com você. Nós dois com COVID, em isolamento em casa. Você levantou, fez pipoca e uma vela de ketchup. Eu fazia 37 anos e acreditava que estava no céu. Aquilo era tudo que eu queria, tudo que eu precisava: você.
A gente estava tão bem, Rafa, tão bem…
Eu sei que não adianta perguntar por quê. Eu sei que não adianta nada. A morte não pede permissão, a morte não dialoga, não se justifica. A morte vem e toma.
Há quem diga que é uma passagem, um retorno ao todo. Há quem diga que é só um período, e eu acredito em tudo isso, verdadeiramente. Mas, ainda assim, sinto que fui lesada, que tiraram algo valioso demais de mim. Sinto revolta, sinto raiva, sinto desespero.
E, ao mesmo tempo que sinto tudo isso, sinto uma culpa imensa, porque minha vida é maravilhosa e eu sei que tem muita gente em situação muito pior, muita gente que nunca vai viver, nem por um dia, o que eu e você vivemos… E eu sei que você diria isso e me cobraria continuar, seguir, fazer, agir.
E eu tô tentando, Rafael, porra… como tô tentando… Você não imagina tudo que realizei nestes 3 anos. Quantas experiências novas, quantas pessoas novas eu conheci, quantos lugares, quanta coisa eu fiz com meu trabalho. Queria tanto que você estivesse aqui vendo tudo isso… Porque sei o quanto ficaria orgulhoso de mim. E eu gostava tanto quando você vibrava comigo as minhas conquistas... ah... como faz falta sua torcida na minha vida...
Eu li, certa vez, que o luto coloca a saudade até nos momentos mais felizes. E é isso… Nosso coração passa a ser terra dividida, onde pulsa o querer, o desejo, a felicidade, a esperança… e, na mesma intensidade, a dor, a saudade, a tristeza e a revolta.
Eu não te esqueço nem por um segundo… Lembro sempre de você porque você faz parte de tudo que sou hoje.
Há quem diga que eu deveria virar a página, seguir em frente. Deixá-lo para trás. Mas como? Como, se você faz parte da minha vida, da minha história? Como, se você está nas manias bobas que adquiri, nos sonhos maravilhosos que sonhamos, nas brincadeiras que faço com minha filha, em um passado de 22 anos construído com muita amizade, carinho, cuidado e respeito? Como deixar para trás se aprendi com você como amar, como construir uma relação, como ser parte, como cuidar?
E como, por Deus, me ensine como, ter coragem de entregar de novo meu coração sabendo que não existem garantias contra a dor?
Essa luta interna entre amor e dor é a prova mais evidente do impacto que você deixou em mim. O luto não é sobre esquecer, mas sobre aprender a viver carregando a memória e o amor de quem partiu. O que você me ensinou está entranhado em tudo o que sou, e isso nunca será deixado para trás. Vou continuar tentando, dia após dia, porque sei que é isso que você esperaria de mim: que eu transforme a dor em força, a saudade em impulso e siga vivendo por mim e por você. Transformando o limão mais amargo em algo parecido com uma limonada...
Vc é imensa! Transborde a saudade, o amor e a alegria de ter experimentado uma vida ao lado do Rafa.
ResponderExcluirExatamente , como abrir o coração sem ter certeza de que vai doer novamente … passei pela perda do amor da minha vida para um acidente também, já fazem 5 anos e até hoje estou “tentando” achar uma brecha no coração mal costurado para um novo amor, mais, não é fácil ! E acho que nunca nem será !
ResponderExcluir