É curioso como as pessoas, bem-intencionadas e apressadas, se sentem tão à vontade para definir o fim do luto de outra pessoa. A pressa em dizer “já é hora de seguir em frente”, como se existisse um alarme invisível avisando que o tempo de dor acabou, que a ausência já foi absorvida e agora precisa ser descartada como um objeto qualquer. Mas a verdade é que a ausência não é preenchida, ela só se molda em nós de um jeito novo. Luto não termina; ele apenas muda de forma.
Eu sempre digo que perder alguém é como perder, literalmente, uma parte de si: aprendemos a viver sem, mas essa falta não é substituída. Nada resolve, porque não há o que resolver. Não há como colocar uma prótese no vazio. O que resta é aceitar a nova forma que carregamos, uma forma incompleta, mas ainda viva e cheia de outras possibilidades.
Lidar com o luto é um processo extremamente íntimo e único. Cada pessoa cria suas próprias estratégias, e o que funciona para uns pode ser devastador para outros. O grande erro é assumir que há uma linha do tempo ideal ou um roteiro certo para superar a dor. Muitas vezes, quem observa de fora tenta ajudar com base em suas próprias experiências ou pelo desconforto de ver o sofrimento de alguém querido. Mas lidar com o luto é, antes de tudo, um exercício de empatia e respeito por esse percurso alheio.
Os vínculos que criamos com aqueles que amamos não são substituíveis ou “apagáveis”. E, ao contrário do que muitos podem pensar, o luto não é sobre “esquecer e seguir em frente”. É sobre integrar essa perda na sua vida e aprender a viver com a saudade. Cada pessoa encontra um jeito próprio de manter vivo o que foi significativo. Há conforto em revisitar certas memórias, mesmo as mais íntimas e pessoais, e isso não é um sinal de apego doentio ou de que a dor permanece cristalizada. É uma forma de manter algo vivo dentro de nós, de ressignificar um pedaço perdido sem ter que abandoná-lo por completo.
O importante é observar o impacto dessas lembranças na nossa vida. Se elas trazem conforto, uma sensação de conexão ou preservam uma parte da história que nos constitui, elas podem ser saudáveis e até fundamentais para o processo de cura. Por outro lado, se começarem a limitar, sufocar ou impedir novos movimentos, talvez seja um sinal de que é hora de buscar apoio e novas estratégias de cuidado. Mas apenas quem está vivendo a perda pode saber o que precisa ser ajustado, e em qual momento. Em vez de se preocupar se é “correto” ou não sentir o que sente, permita-se sentir, sem julgamentos. Fugir do que você sente é fugir de si mesma. Isso não funciona. Encarar seu próprio caos e ficar é o maior ato de amor próprio que existe.
Então, talvez o luto nunca acabe. Talvez ele só te transforme em uma outra versão de si mesma, uma que aprendeu a conviver com o que falta, a guardar com carinho o que se foi, e a abrir espaço para o que ainda está por vir. Não é sobre esquecer, mas integrar. Porque, ao final, viver é isso: aprender a ser inteira de um jeito novo, mesmo com o que ficou faltando.
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