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Jogando o Jogo do Contente


Ontem eu fiz todos os meus planos para a semana, mês, pro futuro. 

Tava motivada a mudar o ritmo da minha vida. Recomeçar. 

Acordei hoje arrasada. 

Tive um segundo sonho com o Rafael. No primeiro, há uns dias, eu via ele através de um vidro, tentava alcança-lo mas ele não me via, não me ouvia, não me atendia... foi desesperador. 

Neste ele terminava comigo, e eu implorava para que ele não fosse embora, não desistisse de nós, que poderíamos consertar qualquer coisa. Mas ele dizia que já era hora e que não dava mais. Ele tava chorando. E eu acordei com esse sentimento horrível com ele terminando comigo. 

Minha psicologa disse que é meu inconsciente elaborando essa tragédia. Eu não sei dizer o que é.

Só sei que eu acordo destruída. Com a sensação do fim pulsando no meu corpo. As lágrimas saltando dos meus olhos e a solidão me apunhalando o coração. O ar falta, o peito aperta, a dor é física e o pânico parece que vai tomar conta de tudo.

Nas primeiras noites sem ele eu acordava com a sensação muito viva de que ele tava aqui. Mas depois do primeiro sonho, foi como se ele fosse... E desde então minha vontade é ficar na cama e não fazer nada. Chorar e chorar. 

É tão duro tê-lo perdido. É tão duro ter que viver uma vida sem ele. É tão duro pensar em ser triste pra sempre por não tê-lo. Mas também é tão duro pensar em ser feliz sem ele comigo. Tudo, por mais simples que seja ficou tão difícil e pesado...

Eu preferia que ele tivesse terminado comigo, por mais que eu acredite em "céu". Eu preferia que ele tivesse terminado comigo. 


Esse era o fim que eu normalmente daria para esse texto.

Mas uma das minhas decisões de ontem é escrever sobre recomeço e motivação. Trazer esperança para mim e para as pessoas. Porque coisas boas acontecem mesmo no meio dessa lama toda e precisamos olhar pra elas, de algum modo: isso é a vida continuando.

Ficar com a cabeça enfiada na minha dor não vai me ajudar em nada.

Então decidi dar uma de Pollyanna (do livro), e tentar ver algo bom em tudo que acontece - vamos jogar o jogo do contente. Quem vai comigo?

A Pollyanna do livro era boa, ela via beleza em tudo. Eu não consigo ver algo bom em muita coisa. Mas vou focar minhas energias nas coisas boas que consigo ver.

Vejo beleza e fico contente por estar tendo mais um dia aqui com minha filha. Agradeço por isso.

E agradeço também por, apesar de estar destruída, eu estar tentando me levantar, tentando fazer algo, tentando continuar. Não sei se essa força vem só do amor que sinto por minha filha e por ele, mas agradeço por estar aqui, mais um dia, com metas, objetivos e sonhos. 

Porque apesar de tudo eu ainda estou sonhando. Seja em ver a Duda formada, seja em ver meu livro publicado. Ainda existem desejos aqui. 

E é isso. Depois de uma perda como essa não tem como não estar destruído. Não tem como não estar com a alma em pedaços. Se encontrar no meio dos escombros da vida que você vivia é difícil. Toda hora a vida nova esbarra na vida velha e te traz milhares de lembranças. Apesar de querer seguir você não quer soltar o que você já não tem mais. Você quer parar de sofrer, mas não quer abrir mão da dor. E ai você não sai do lugar. 

Eu desisti. Desisti de me reconstruir, de ressignificar (nem mesmo sei o que é isso ou como faz). Desisti de fugir do meio dos escombros, desisti de não sentir essa dor imensa. Não tem como. Por mais que eu reconstrua essa casa toda dentro de mim, ainda haverá um quarto escuro e todo quebrado dentro dela. Então eu desisti de fugir disso. Talvez a saída seja reconstruir sobre isso, com isso, tendo toda essa confusão e dor como alicerce para quem eu posso ser. Tendo essas partes quebradas fazendo parte das partes novas porque são quem sou também. Desisti de colocar tudo em ordem, de acabar com a dor e de esconder os cacos - decidi abraçar com todas as forças tudo isso, a claridade e a escuridão, o inteiro e o quebrado, o novo e velho, a dor e a alegria - e ter orgulho de tudo isso, porque é quem eu sou. 

O Rafael sempre fará parte de mim, a dor de de perdê-lo também. Mas eu posso me reorganizar apesar disso. Eu posso construir coisas ao redor disso e COM isso. Claro que posso. Posso chorar, não importa quanto tempo passe. Posso sentir falta e querer ver fotos. Mas posso também fazer planos pro futuro, posso sonhar e realizar esses sonhos, posso ser alguém e ter uma vida apesar da perda ou até em razão da perda. 

É esse o caminho que quero seguir. 

Ps. Talvez eu finalmente esteja me reconstruindo e ressignificando, mas também não sei. 

Ps2. A dor e a saudade sempre farão parte de quem agora eu sou, e é preciso que eu abrace, aceite, acolha e me orgulhe dessa pessoa. Não há como voltar a Pollyanna de antes. Mas há como ser uma nova Pollyanna.

Comentários

  1. A Pollyanna de antes não existe mais. Mas a Pollyanna de antes è o alicerce completo da Pollyanna de hoje... E sim... Eu quero muito brincar de jogo do contente com você 🌷

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  2. Reconstrução, ressignificado... Tudo isso aos poucos, no seu tempo, se encaixa. 🖤

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  3. Se formos esperar passar a dor e a saudade pra voltarmos a vida não viveremos. Realmente somos outras pessoas depois da perda, jamais as mesmas.

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  4. Forte, intenso, porém sincero. Amei. Você arrasa, Polli! ❤️

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  5. Estou contigo, minha flor. O amor é a força motriz. Te amo.

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