Na minha cama mora um caos delicioso. Uma desordem viva, pulsante, que não segue manual nem protocolo: e ainda bem. As cobertas jogadas pelo chão carregam o rastro do que fomos: urgentes, famintos, desobedientes. O cheiro quente do quarto denuncia o que a boca não confessa. As risadas ainda vibram no ar como se tivessem sido presas nas paredes. E os corpos… ah, os corpos. Eles se encontram como quem volta pra casa depois de anos perdida. Se enroscam, se provocam, se reconhecem na pele, no toque, no ritmo descompassado da respiração. Tem suor escorrendo, tem cansaço bom que pesa nos músculos, tem aquela exaustão que só existe quando dois mundos colidem sem medo de deixar marca. E depois da explosão, vem o silêncio. Aquele silêncio que não é vazio, é cheio. Cheio de respirações curtas, pensamentos bagunçados, corações desalinhados e vozes internas que sussurram verdades que não ousamos dizer em voz alta . Porque a minha cama é isso: um campo de batalha e um refúgio, um caos e um ninho, u...
Às vezes parece que é sobre o outro, mas no fundo acho que é sobre mim. Sobre o que restou de mim entre o que fui e o que quero ser. O passado me acena com uma lembrança bonita, um perfume antigo, uma história que quase foi. O presente me chama pra dançar, sem prometer nada, só o agora, só o que vibra. E eu, no meio, tentando decifrar o que é saudade e o que é vontade. É como se eu estivesse em um cruzamento onde o tempo se dobra. De um lado, a menina que sonhava. Do outro, a mulher que cansou de sonhar. Eu olho pros dois caminhos e ambos me parecem familiares. Os dois têm cheiro de casa, e ao mesmo tempo, nenhum tem. Tem algo em mim que quer ir, e outro tanto que quer ficar. E o pior é que não sei se quero ir com alguém, ou se quero só ir. Não sei se quero ser escolhida, ou se é hora de escolher. Às vezes penso que quero o conforto do que...