brincamos de esbarrar em vontades,
num jogo de olhares que nunca termina,
mas que nunca começa de verdade.
O chão frio sob nossos pés descalços
testemunha risos, toques sutis,
palavras suspiradas sem compromisso,
como quem acena pra algo que não se diz.
As portas fechadas atrás de nós
sabem mais do que deixamos escapar.
Você de um lado, eu do outro,
sem coragem pra realmente entrar.
É tão bom ficar aqui, no meio do caminho,
onde a promessa é leve, o toque é breve,
e o peso da entrega não nos alcança.
Mas o corredor não é casa, nem abrigo.
Às vezes, quase cruzo sua porta,
mas você a fecha antes que eu passe.
Às vezes, sou eu que me escondo rápido,
temendo que você veja demais.
E assim seguimos, dois estranhos conhecidos,
que se querem, mas não se deixam ter,
confortáveis na superfície do desejo,
medo e prazer.
No fundo, sabemos que isso não dura,
o corredor tem fim, o jogo é raso.
E quando um entra e a porta se tranca,
o outro fica só, do lado de fora, no acaso.
Mas enquanto a porta não fecha,
enquanto os risos ecoam vazios,
brincamos de quase, de quem sabe um dia,
sabendo que esse jogo é breve, fugidio.
Comentários
Postar um comentário
Fala comigo: