O cérebro da gente é um órgão complicado, né? Ele tem grande poder, controla todo nosso corpo, mas em um momento como esse, do luto, ele simplesmente te trai a todo momento.
Vai fazer um mês que meu marido faleceu. E eu ainda acordo todos os dias procurando ele na cama... Todos os dias eu rolo pro lado dele e estico meu braço, como se ele ainda estivesse ali. Todos os dias eu olho no relógio no horário dele chegar e fico esperando... esperando...
E ai eu me pergunto: "Pollyanna, o que você está fazendo? Ele não vai voltar"
Como é difícil tomar consciência disso todos os dias - várias vezes no dia.
Porque o cerebro não entende simplesmente essa nova realidade e vira a página? Porque ele fica trazendo a minha memória tudo que era pra eu tá fazendo e não estou?
Isso é tão cruel.
Me disseram pra focar nas coisas boas e ser grata e acredite, eu tô sendo... eu tô focando nas coisas boas, eu sou grata por todo o amparo que estou recebendo. Mas a dor tá aqui dentro, mesmo assim. A dor tá me consumindo e me quebrando várias vezes todos os dias... quando eu acordo pela manhã, quando eu tenho que tomar uma decisão importante, quando eu sinto medo, quando a luz do dia tá bonita, quando eu vou ao trabalho, quando eu olho uma foto antiga, quando eu caminho pelo centro da cidade, quando eu brinco com os cachorros, quando eu penso no que vou jantar, quando eu penso no final de semana, quando eu vou dormir.
As lembranças de todos esses momentos estão aqui me fazendo pensar na ausência dele o tempo todo, e fazendo doer, doer e doer mais.
Eu tô fazendo terapia e lendo sobre o luto porque quero passar por tudo isso bem e conseguir chegar ao final dessa estrada. Não sofro porque quero sofrer. Não lembro porque quero lembrar.
E não é minha casa, ou o quarto. É tudo. simplesmente tudo. Minhas mãos me lembram dele, o meu corpo quer ele. Quando alguém brinca ou fala alguma coisa, meu cérebro na hora pensa o que ele diria?, pensaria?, falaria?
E eu pergunto: porque essa máquina perfeita que somos nos trai tanto em um momento tão vital? Porque ainda não criamos um mecanismo de defesa contra esse processo que é tão natural e intrínseco da existência humana? Porque é tão difícil ressignificar a vida após uma perda?
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